50 tons de capacitismo e a #HotPersonInAWheelchair

A polêmica nasceu com alguém “ressuscitando” esse post no twitter:

Estava criado o alvoroço majoritariamente de ativismo gringo na timeline da minha rede preferida. E uma coisa que eu aprendi é que capacitismo se combate, não importa em que lugar no mundo ele ocorra.

Se alguém vem com uma versão de “tão bonita e na cadeira de rodas”, uma frase cheia de mil tipos diferentes de capacitismos, que afetam pessoas com deficiência no mundo todo e que me perseguiram a vida toda (ainda perseguem, mas a cada dia que passa eu me especializo mais em passar essas coisas no triturador sem perder a cabeça e a classe) como Ken Jennings apareceu com a frase “nada mais triste que uma pessoa bonita numa cadeira de rodas”, ela tá basicamente pedindo pra que as pessoas com deficiência do mundo todo exibam quão bonitas, sexys, maravilhosas e felizes são pois #HotPersonInAWheelchair SIM, viu? E foi exatamente isso que aconteceu e ainda está acontecendo:

Because @KenJennings is gross here is my #Hotpersoninawheelchair entry pic.twitter.com/l8cB6Ss8vT

Not only proud, but THRILLED to be a #HotPersonInAWheelchair!

#HotPersonInAWheelchair
A perfectly suited photo for an ableist ass xD pic.twitter.com/5SuWaXkiQQ

Apparently there’s nothing sadder than a hot person on a wheelchair. I’d say there’s nothing more aggravating than the #ableist BS so many feel comfortable sprouting.

omg, #HotPersonInAWheelchair is happening because @KenJennings refused to apologize for a terrible tweet he made in 2014. lotta hot humans in their accessible devices under that tag. proud to be one. it’s pathetic he won’t acknowledge his behavior – STILL.

Claro que o Brasil teve suas participações:

Um cara falou que “não existe nada mais triste que uma pessoa bonita na cadeira de rodas”. Desculpa entristecer vocês com minha foto #HotPersonInAWheelchairpic.twitter.com/askFI0Zb10

obrigada por essa hashtag mundo 🌿#HotPersonInAWheelchairpic.twitter.com/4ypWARDPEK

E essa é uma das minhas colaborações:

Claro que a hashtag já é uma das mais queridas e chegou nos trending topics do twitter como essa reportagem do IG apontou. E bastam dois minutos olhando a #HotPersonInAWheelchair para ver que tem muita beleza sendo ignorada nesse mundo pelo uso de um ACESSÓRIO. Não tem uma mulher ou homem feio por lá e ainda tem muita gente nessa de “tão linda e na cadeira de rodas” e deixando de enxergar quem realmente somos por algo que nem faz parte do nosso corpo, pra só falar sobre estética mesmo. Tá mais do que na hora das pessoas entenderem que dá pra sermos e nos enxergarmos lindos, felizes e poderosos, apesar de todo apagamento dos nossos corpos como produtivos, funcionais, desejáveis e sexuais, como esse outro tweet lembra bem:

Mas talvez, apenas talvez, uma afirmação RIDÍCULA dessa tenha sim muito a ver com o boçal a pessoa que a escreveu (e não pediu desculpas até agora, nem apagou o tweet) ser um ESCRITOR (mas que na Wikipedia é lembrado primeiro como paticipante de um gameshow). Claro, em literatura, cinema, novela a pessoa com deficiência é utilizada para algumas coisas como redenção, superação, curas misticas milagrosas e é também “bestificada/monstrificada” para elevar a moral da personagem sem deficiência como boa pessoa, santa e tantas outras qualidades que me dão até preguiça de lembrar, ao invés de retratarem as coisas como elas são: a pessoa com deficiência como um ser humano, inteiro e completo. A convivência conosco é sempre retratada como um drama triste, horrível e de profundo sofrimento por terem que lidar com o diferente, com limitações e praticamente nunca como algo natural e rico em nuances e alegrias.

Foi só uma frase. Dessas curtas e simples que tantos usam no dia-a-dia, mas tão carregada de capacitismos pra se refletir.

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